A chuva e os problemas urbanos

domingo, 17 de maio de 2009


Todo ano vemos nos noticiários casos de enchentes, alagamentos, transbordamentos e deslizamentos de terras provocados pela ação das chuvas em diversas regiões brasileiras. Muitos comentários, de autoridades, políticos e mídia, atribuem as catástrofes às intempéries, tratando todo o infortúnio como um simples desígnio natural, eximindo as responsabilidades dos setores públicos, privados e da população quanto à situação.

 

As chuvas castigam, em muitos locais do país, uma grande parcela das populações locais, mas, sobretudo, cidadãos de baixa renda, marginalizados e moradores de áreas de risco. Salvo alguns casos, a grande maioria dos problemas com enchentes, decorrem de más administrações públicas quanto a saneamento, escoamentos de águas pluviais, planejamento urbano, programas de zoneamento, controles ambientais e fiscalização de obras e ocupações.

 

O crescimento constante de centros urbanos de forma não planejada provoca um acréscimo no volume de água escoada de chuva, devido à impermeabilização dos solos, o que leva ao crescimento instantâneo da vazão de córregos e rios, que por sua vez sofrem com desmatamento das matas de galeria e não possuem as áreas de preservação protegidas. A força das águas acaba por provocar erosões, deslizamentos, destruição. Em cidades como São Paulo, as enxurradas são cada vez maiores, em intervalos cada vez menores, e a luta para escoar a água de maneira eficaz, torna-se praticamente impossível. As alterações na topografia e as instalações urbanas (prédios, estradas, casas, galerias) fazem inviáveis financeiramente reformas verdadeiramente eficazes.

 

Outro problema quanto à ocupação urbana é o não planejamento de áreas de construção, invasões e demora na execução de obras de saneamento público. Favelas e ocupações promovem desmatamentos de áreas que se mantinham estáveis pela presença das matas naturais, que sustentavam encostas e perfis inclinados de terrenos. Retiradas não planejadas de terras, nivelamentos de loteamentos ilegais e construções sem projeto são responsáveis por fragilizar o solo contra os efeitos da chuva e do escoamento das águas.

 

A fórmula para se resolver o problema, de forma resumida e simplificada, consiste em três meios de ação simultâneos: controle de vazão da água pluvial nas áreas urbanas (galerias pluviais, bueiros, controle de áreas de absorção, manutenção e preservação dos leitos dos rios); redução de ações erosivas (com combate e prevenção); e aumento da área de absorção superficial e sub-superficial das águas de chuva. São medidas de fácil execução, derivadas de planejamentos e bom senso.

 

A problemática poderia ser amenizada, inicialmente, nas zonas mais novas das cidades, com trabalho consciente de saneamento e drenagem urbana, com destinamento de áreas maiores de "solo natural" em loteamentos, praças e prédios públicos, manutenção de áreas verdes e de proteção, criação de reservas, plantio ou recuperação de bosques, reservatórios de água pluvial em residências e construções de médio e grande porte, com calhamentos que diminuem o volume da água de escoamento, melhor coleta e destinação de lixo e respeito pela legislação ambiental. Para as áreas mais antigas, “viciadas” em velhos costumes desleixados, novas reformas progressivas podem assimilar e adequar os espaços afetados, corrigindo os antigos erros e prevenindo futuros problemas.

 

Toda essa reforma deve ser impulsionada pela ação conjunta dos órgãos públicos e devem ser exigidos e fiscalizados pela população. Se essas medidas ou preocupações fossem tratadas mais seriamente, poderíamos observar uma melhoria contínua desses problemas "causados" pelas chuvas.

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