Concreto e sustentabilidade?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Por: Carlos Henrique Klein

A indústria da construção é considerada um dos principais indicadores de desenvolvimento de uma nação, representando o crescimento real das áreas urbanas, organização e reorganização dos sistemas de infra-estrutura, desenvolvimento social com construção de moradias, saneamento, malha viária e vários outros tipos de edificações, além de ser o setor da indústria e que mais emprega no país. Todavia, todo esse desenvolvimento implica em atividades impactantes ao ambiente tanto em meios urbanos, com o desenvolvimento das cidades, como em regiões afastadas, com a construção de estradas, pontes, represas, etc. Dessa maneira, enfrentar esse desafio se torna um dever de todo setor da Construção Civil.

Os processos construtivos vêm passando por constantes aprimoramentos, atendendo de maneira rápida e eficiente às demandas de mercado. Temos observado construções rápidas, com materiais leves e cada vez mais baratos em comparação aos padrões de resistência e estética apresentados, mas notamos também que a durabilidade dos componentes construtivos cada vez mais diminui. Dificilmente vemos construções feitas para durar. O que se apresenta no cenário comercial da construção é um processo rápido de edificação, mas que não visa perdurar por muito tempo. A indústria da construção se encarregou de incentivar a troca, o reparo e a reestruturação, mantendo assim o fluxo de capital e favorecendo o comércio de materiais de construção, matérias primas e insumos.


Quanto maior a quantidade de construções, maior será a quantidade de materiais empregados nas obras, o que implica diretamente no aumento da extração de componentes naturais e na produção de industrializados, como o cimento, para suprir as necessidades construtivas. De acordo com HAWKEN et al (1999)1, apenas 6% do total de matérias primas extraídas da natureza – cerca de 500 bilhões de toneladas anuais – chegam até o produto final desejado, sendo a maior parte do restante devolvido ao meio ambiente sob forma de resíduos danosos.

O concreto2 é o material mais produzido e utilizado nas construções brasileiras, sendo empregado em edificações, pontes, obras de arte, estradas, represas e outros em todo território nacional. Seu uso crescente também implica em atividades impactantes, não somente em sua aplicação, mas também em sua produção. Segundo LARANJEIRAS (2002)3 a cada tonelada de clinker produzido na fabricação do cimento corresponde, aproximadamente, a uma tonelada de gás carbônico emitida para a atmosfera. A indústria do cimento produz mais de 2 bilhões de toneladas anuais deste material, o que implica na emissão de 7% do total de dióxido de carbono lançado anualmente na atmosfera no mundo todo.

Para a produção do concreto, são também utilizados materiais como a areia e a brita, juntamente com outros aditivos minerais. Essa utilização beira o montante de 12 bilhões de toneladas anuais desses materiais. Se considerarmos, somando ao impacto da exploração, todo o processamento e transporte dessa matéria prima, veremos que todo processo de produção do concreto afeta muito desfavoravelmente o ambiente. Para finalizar, todo o processo consome mais de 1 trilhão de litros de água por ano.


A redução da durabilidade das estruturas de concreto provoca o aumento do consumo de matérias primas, produção de poluentes, gastos energéticos e custos adicionais com reparos, renovação e manutenção das construções.


As construções em concreto armado geralmente são projetadas para ter uma vida útil de 50 anos. Alguns estudos demonstram que em grandes centros, devido a inúmeros fatores, as construções não resistem aos 20 primeiros anos sem começarem processos de deterioração, sendo esse um processo mundial. A Associação Americana de Engenheiros Civis (ASCE) estimou, no ano de 2001, que o custo do reparo de infra-estrutura em concreto ultrapassou o valor de 1 bilhão de dólares nos EUA, fato que levou alguns estudiosos das tecnologias construtivas a sugerirem o aumento da vida útil das construções para, em média, 150 anos.


Aumentado a vida útil das estruturas em concreto, de maneira geral, se mostra uma boa solução a longo prazo para a preservação de recursos naturais, redução de impactos, economia de energia e aumento do potencial de extração das reservas naturais. Porém, para se obter esses resultados, é necessário a reestruturação do processo construtivo, que prega a produtividade acelerada, tornando-o propenso à preservação dos recursos, previsão de necessidades a longo prazo e maior durabilidade estrutural.

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1 Hawken, P.; Lovins, E.; Levins, H. Natural Capitalism – Creating the Next Industrial Revolution, Little Brown and CO., 1999, 369p.
2 O concreto é uma mistura homogeneizada de cimento portland (obtido da moagem direta do clinker) com aditivos minerais.

3 Laranjeiras, A.C.R.; Palestra – Estruturas de Concreto Duráveis – Uma chave para o sucesso do Desenvolvimento Sustentável, Simpósio Comemorativo IBRACON 30 anos, 2002.

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