Ensaio, insônia, natureza e um pouquinho de palavras

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Por: Carlos Henrique Klein

Estava com dificuldades para dormir e comecei a tentar não pensar em nada, mas o que foi bastante curioso foi a seqüência de pensamentos que vieram desde então. Liguei a televisão e vi um economista dizer na madrugada sobre a questão da economia ter começado seu desenvolvimento teórico baseado nas leis físicas, na mecânica, mais precisamente. De acordo com ele, os teóricos das ciências econômicas afirmavam que a economia era previsível, reversível e cíclica. Desta maneira, seria possível traçar os rumos da economia individual de cada região, prever seus efeitos, reverter crises e esperar até tudo voltar ao ponto zero e recomeçar o ciclo econômico novamente.


Se pensarmos que os ciclos e as atividades econômicas embasam e retratam, lembrando que eu não sou economista, os desenvolvimentos tecnológicos e o crescimento de regiões ou em níveis globais, podemos perceber que seus índices e números retratam diretamente as questões de impacto da atividade humana ao ambiente. É inegável que quanto maior o desenvolvimento, maior o reflexo impactante nos ambientes naturais. É um grande problema, digno de ser pensado em uma madrugada.


A saga do meu raciocínio continuou, comecei a lembrar de alguns conceitos básicos das ciências naturais... Isso me trouxe à lembrança uma das leis mais incríveis que a natureza poderia ensinar e que as ciências admitem e reafirmam: "tudo tende ao equilíbrio"; e o estado de equilíbrio induz a uma situação de repouso ou de movimento constante. Ampliando este conceito, poderíamos dizer que o equilíbrio é a situação onde temos o melhor rendimento para um determinado sistema, ou seja, o suficiente para não haver mudanças ou o suficiente para existir um desenvolvimento constante. De qualquer maneira, a natureza trabalha com o suficiente para se manter e tudo que é desigual provoca um desequilíbrio que prontamente é combatido pela própria natureza.


Proponho espelharmos essas leis e esses princípios para nossa vida cotidiana. Que tal imaginarmos a aquisição de um carro, de padrão médio-elevado, nada muito luxuoso, mas que agrada nosso ego e provoca boa impressão. Nosso carro pesa uma tonelada, gasta 8 litros de combustível por quilômetro e chega a uma velocidade de 260 quilômetros por hora. Vamos calcular o rendimento dessa nossa posse? Sem números, só com idéias... Temos uma tonelada de metal, plástico, óleo, circuitos e demais polímeros para transportar apenas uma pessoa que tem entre 70 e 90 quilos. O engraçado é que muitas das vezes, não existe outra pessoa usufruindo desse veículo, ele gera vapores e fumaça prejudiciais ao ser humano, que provocam poluições, seus pneus fazem parte de uma triste estatística de acúmulo de lixo não reciclado, gasto de metal, consumo de combustível não renovável (petróleo) e outras características que somente agravam a situação. Não se aproveita ao menos 15% do potencial total de um automóvel como este.


Outro exemplo interessante sobre rendimento pode ser o uso de energia elétrica. Algumas estatísticas, dados técnicos e especialistas afirmam que se ampliarmos as exigências sobre as usinas hidrelétricas conseguiríamos produzir até 20% mais de energia elétrica. Outros, afirmam que o uso consciente, doméstico e industrial, conseguiria aumentar nosso potencial energético em até 50%. Onde então está o fator dominante na nossa "crise energética"? Seria a dificuldade em produzir mais ou a capacidade de gastar menos? Capacidade de gerenciar um rendimento melhor dos nossos recursos?


Isso tudo nos mostra que não é somente uma questão de planejamento e prevenção, é uma questão de costume. É uma cultura viciada de expansão desenfreada e despreocupada que não consegue imaginar a própria situação daqui a alguns anos.


O pensador Malthus disse que o crescimento da produção de alimentos progredia em uma marcha aritmética, enquanto a população de reproduzia a taxas geométricas. O pensador estava errado, vemos uma taxa muito superior de crescimento de produção de alimentos do que a taxa de crescimento populacional. Ele afirmou também que o crescimento desenfreado da população em relação à produção alimentícia, provocaria um quadro generalizado de fome. O que ele ignorou é o fato dos recursos renováveis possuírem total capacidade de suprir a população em qualquer índice numérico, sendo assim, nosso grande problema é que somos, querendo ou não, uma espécie animal e por mais que desenvolvamos tecnologia e consigamos modificar nosso meio, ainda partilhamos das mesmas diretrizes no quesito sobrevivência. Pelo que eu saiba, não produzimos energia, não produzimos matéria e não inventamos nada que não saia, não esteja ou não se baseie na natureza. Estamos limitados em um espaço fechado, com limites bem definidos e com recursos que são impactados por nossas ações. Nosso grande problema não é o fim dos recursos, mas o impacto que causamos ao ambiente.


Não estou criticando o sistema, não estou pregando uma doutrina ou muito menos vendendo uma solução. Eu acordei essa madrugada pensando que enquanto todos pregam a sustentabilidade, todos nós desenvolvemos a insustentabilidade, de maneira viciada e completamente alienada em costumes arcaicos, contraproducentes, com baixo rendimento e à mercê de atividades altamente predatórias. A humanidade conseguiu nos últimos séculos ter a capacidade de extinguir espécies naturais (animais ou vegetais) em números próximos aos extintos pela própria natureza desde o início da vida na terra, claro que estou falando em percentuais.


Posso estar correndo o risco de parecer um naturalista fanático, o que não sou, mas nossa existência neste planeta está soando como um grande desastre ecológico que poderá acelerar o processo de extinção do homem. O que a natureza previu para daqui uns milhares, ou até milhões de anos, estamos acelerando para algumas décadas.

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