Sucesso do biodiesel depende do sistema agrícola, diz estudo

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Por: Caroline Borja (Com Ciência)

21/07/2008

Derivado de óleos vegetais ou gordura animal e menos poluente, o biodiesel leva muitas vantagens sobre o seu similar vindo do petróleo, o óleo diesel. Mas nem tudo são flores na corrida pela aposentadoria dos combustíveis fósseis. Um estudo do Departamento de Plantas de Lavoura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) avaliou as vantagens e desvantagens da produção do biodiesel para o ambiente e para a agricultura. O ônus ou o bônus da produção do combustível depende do sistema agrícola utilizado, concluiu o artigo publicado na revista Ciência Rural (vol.38 n.4).

Os autores do artigo, os engenheiros agrônomos Paulo Regis Silva e Thais Freitas, mencionam as vantagens da substituição do óleo diesel pelo biodiesel, que, além de derivar de fontes renováveis, é também menos nocivo ao solo. Mas quando se trata de custo de produção e de balanço energético, dependendo do sistema usado no cultivo, quem leva vantagem é o derivado do petróleo. Essa análise considera a eficiência energética, ou seja, a energia gasta na produção de grãos.

E se o assunto é o uso de recursos naturais, a desvantagem do biocombustível aumenta ainda mais. Segundo o artigo, são gastos 85 litros de água para produzir uma quantidade de biodiesel suficiente para manter funcionando um motor de um HP por uma hora. Em contrapartida, para fabricar o equivalente em óleo diesel é consumido menos de um litro de água. O estudo aponta ainda os nutrientes que, em vez de se destinarem à produção de alimentos, são empregados em larga escala na geração de biodiesel e que no entanto são dispensáveis na fabricação do diesel de petróleo.

Porém, a substituição pelo biodiesel é vantajosa ao diminuir a dependência do petróleo, pois, de acordo com Freitas, todos os cenários prevêem aumento no consumo de combustíveis. Ela explica que, como no caso de qualquer outra tecnologia, o biodiesel deve ser aplicado de maneira racional, planejada, considerando suas conseqüências e desvantagens. “Deve-se equacionar até que ponto a substituição do óleo diesel deve ser feita pelo biodiesel e inserir outras fontes alternativas de energia, como o bioetanol, gás natural, resíduos de lavouras (como bagaço de cana e casca de arroz)”, acrescenta.

Em relação aos alimentos, a engenheira agrônoma esclarece que o biodiesel não precisa ser produzido a partir de fontes tão importantes para a alimentação humana como a soja. “Ele pode ser obtido, por exemplo, da gordura animal, que é considerada um subproduto e costuma ser pouco aproveitada”, diz ela. Freitas explica que as culturas produtoras de óleo devem entrar num sistema de rotação dentro da propriedade, o que só traz vantagens para o sistema produtivo como um todo, aumentando a eficiência de utilização dos recursos naturais. “O grande problema está na falta de planejamento, na instabilidade dos preços, na incerteza em que vive o produtor, que agora vê no biodiesel uma fonte de renda”, diz.

Para Freitas, o Brasil tem espécies com alta densidade energética e potencial produtivo que não estão sendo exploradas, como o dendê e o coco. São espécies perenes, que não necessitam do dispêndio financeiro e energético de uma cultura anual. A produção de biodiesel hoje é baseada em culturas anuais, com alto custo de produção. “Para que essa situação mude, falta pesquisa e incentivo ao uso das culturas adaptadas a cada região do país, e uma política de incentivo e preços que permitam ao agricultor e a indústria ter fonte de renda o ano inteiro”, analisa a pesquisadora.

Fonte: Notícias Com Ciência

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